Setor elétrico europeu tem potencial para ser energeticamente independente

Estudo indica que sistema elétrico apenas ficará livre de combustíveis fósseis até 2040

10 de outubro, 2023
Setor elétrico europeu tem potencial para ser energeticamente independente
Um novo estudo intitulado «Independência Energética Europeia através do recurso a Renováveis até 2030» revela que a Europa pode atingir a independência energética e uma produção elétrica livre de combustíveis fósseis até 2030, graças à tecnologia já existente no continente. O estudo afirma que o sistema elétrico apenas ficará livre de combustíveis fósseis até 2040.
O estudo foi coordenado pelo Instituto Potsdam de Investigação sobre o Impacto Climático (PIK). A estes investigadores juntaram-se académicos de outras seis instituições de renome: Bauhaus Earth (BE), Instituto Fraunhofer de Sistemas de Energia Solar (FhG-ISE), Instituto Alemão para a Investigação Económica (DIW), Instituto Internacional para a Análise de Sistemas Aplicados (IIASA), Centro de Pesquisas de Física Atmosférica e Climatologia (Academia de Atenas) e Universidade Técnica de Berlim (TUB).


Falamos de um estudo encomendado pelo Aquila Group, uma empresa de investimento e desenvolvimento de ativos, especializada na criação e gestão de ativos essenciais sediada em Hamburgo, na Alemanha. A empresa receia que a oportunidade de criar um sistema europeu integrado de energia limpa baseado totalmente em recursos renováveis possa ser desperdiçada, caso não sejam tomadas medidas urgentes. A implementação de um sistema deste tipo iria reduzir os custos da energia para os consumidores, diminuir a vulnerabilidade em momentos de tensão geopolítica e aumentar a competitividade europeia a nível global. Os autores do estudo apelam aos líderes europeus para aderirem a uma «vontade política comum», por forma a alcançar a independência energética através das tecnologias disponíveis e a promover uma expansão em massa, mas acessível, das energias renováveis - nomeadamente das energias eólica e solar.

O estudo conclui que, ao aproveitar os recursos energéticos complementares da Europa, juntamente com a consolidação da rede elétrica, o sistema energético poderá acabar com as importações de gás e petróleo, tornando-se independente de países voláteis.

Para alcançar este objetivo, o estudo revela que será necessário um investimento europeu de 140 mil milhões de euros por ano até 2030 e de 100 mil milhões de euros por ano até 2040 em soluções energéticas verdes. Por forma a contextualizar este cenário, os autores do estudo sublinham os 792 mil milhões de euros gastos pela Europa para proteger os consumidores dos efeitos da invasão russa à Ucrânia em 2022, que tem causado instabilidade energética e um aumento dos preços.


Alargar o acesso a ativos de energia limpa a um leque mais vasto de investidores

O Aquila Group acredita que as infraestruturas mundiais terão que ser reconstruídas ou renovadas nas próximas duas décadas com o contributo de investidores privados. Desta forma, a empresa está envolvida no financiamento, desenvolvimento e construção de projetos de energia limpa e de infraestruturas sustentáveis.

O crescimento das energias renováveis tem sido notável, mas continua a ser insuficiente para atingir a independência energética ou a neutralidade carbónica na próxima década. As principais barreiras a ultrapassar incluem baixas taxas de armazenamento de energia, a falta de infraestruturas necessárias e o insuficiente uso eficaz de fontes de energia renovável. É importante perceber que as várias regiões da Europa oferecem recursos singulares, mas que estes devem estar adequadamente interligados entre si. A par desta necessidade, há que considerar que uma transformação energética global só poderá ser bem-sucedida se o problema da procura de calor for tido em conta.

O professor Hans Joachim Schellnhuber, Diretor Emérito do PIK e Membro do Conselho Consultivo do Aquila Group, considera que «a independência energética é apenas o primeiro passo. Para atingir a neutralidade carbónica há que tomar em consideração a procura de calor e a necessidade de uma indústria eletrificada. Além das energias eólica e solar, os recursos geotérmicos podem contribuir para colmatar ainda mais as necessidades destas áreas».

Jürgen Kropp, coordenador do estudo, acrescenta que «a criação de infraestruturas energéticas locais iria impulsionar o mercado europeu e reforçar as economias locais. Porém, para tal será necessário implementar regras de aplicação pragmáticas e eficazes».

Roman Rosslenbroich, cofundador e CEO do Aquila Group, sublinha que «o estudo revela que a Europa tem os recursos necessários para alcançar a independência energética através de uma rede consolidada, que promove a complementaridade dos recursos europeus. Este sistema integrado iria, não só, aumentar a competitividade da Europa no mercado mundial com uma das bases de preços de energia mais baixas do mundo, como também reforçar a União Europeia a nível social e político. Com investimentos em soluções de energia renovável, a Europa pode produzir energia a preços competitivos, oferecendo uma capacidade de poupança significativa em comparação com as infraestruturas energéticas tradicionais. Ao mesmo tempo, iria contribuir de forma significativa para o combate às alterações climáticas. As conclusões deste estudo, baseadas numa investigação rigorosa, demonstram o potencial transformador das energias renováveis para o futuro da Europa».

Resumo do estudo disponível aqui.