Portugal e Espanha têm condições para liderar a transição energética europeia e captar oportunidades de industrialização verde, graças a recursos renováveis abundantes, capacidade técnica e instituições robustas.
Esta é a principal conclusão do 4º
policy paper realizado em parceria com a Brookings Institution, publicado pela FFMS. A investigação alerta, contudo, que há desafios cruciais que a Península Ibérica tem de ultrapassar para aproveitar o seu potencial.
Os autores realçam, no resumo da investigação, que «embora dependessem menos dos combustíveis fósseis russos do que outros Estados-membros da União Europeia (UE), Portugal e Espanha também sofreram com o aumento abrupto dos preços da energia e com a instabilidade do mercado energético provocados pela crise energética europeia de 2022».
Porém, reconhecem que ambos os países reagiram «prontamente à crise, negociando medidas de política energética ao nível da UE - entre as quais, o ‘mecanismo ibérico’, a aplicar aos mercados de eletricidade da Península Ibérica, que limitou temporariamente o preço do gás utilizado na produção de eletricidade - e avançando com várias outras medidas internas para reduzir os preços da eletricidade».
«Devido aos seus terminais de gás natural liquefeito (GNL) e às importações dos Estados Unidos e da Nigéria, a Península Ibérica resistiu à crise e apoiou a França através da exportação de gás e eletricidade em níveis nunca antes vistos. Caso houvesse maior capacidade de interligações, a Península Ibérica teria contribuído mais acentuadamente para a segurança energética da UE», lê-se.
Além disso, a expansão da interligação entre a Península Ibérica - «muitas vezes descrita como uma ilha de energias renováveis - e o resto da Europa tornou-se uma prioridade para a autonomia estratégica e para a competitividade da UE».
Este
policy paper procura alavancar as aprendizagens e as oportunidades criadas pela transição energética que está a decorrer em Portugal e Espanha, bem como das tensões geopolíticas e consequente resposta política da UE. As suas conclusões são resumidas pelos autores da seguinte forma:
- Apesar da reduzida dependência inicial da Península Ibérica em relação à energia russa, a sua segurança energética foi afetada pela dinâmica volátil do mercado, pela seca prolongada e pelas alterações geopolíticas no Norte de África. Espanha continua a importar GNL russo, ao abrigo de contratos antigos de longo prazo, que, se as medidas da UE forem devidamente aplicadas, deverão ser progressivamente eliminados até 2027. Prevê-se que o GNL dos EUA desempenhe um papel importante na substituição do abastecimento russo, abrindo novas vias para a cooperação transatlântica no domínio da energia e das infraestruturas.
- O mercado energético da Península Ibérica permanece pouco interligado ao mercado francês e, consequentemente, ao da UE. Os projetos ibéricos atuais ficam aquém dos objetivos de interligação da UE, limitando o papel da Península Ibérica no que se refere ao reforço da segurança energética europeia e à descarbonização. A existência de melhores interligações teria permitido uma maior contribuição ibérica durante a crise energética – uma conclusão de caráter estratégico que os decisores políticos não devem subestimar.
- Os cidadãos portugueses e espanhóis preocupam-se com as alterações climáticas e, de um modo geral, apoiam a transição energética, que também veem como uma oportunidade económica. Esta aceitação social oferece alguma vantagem competitiva para a captação de oportunidades na indústria verde. No entanto, para manter esta dinâmica, será necessário um maior envolvimento com as comunidades locais, uma comunicação clara ao longo do ciclo de vida dos projetos e uma distribuição justa dos benefícios económicos gerados.
- Devido à abundância de recursos renováveis, aos conhecimentos técnicos e a instituições consolidadas, Portugal e Espanha estão bem posicionados para beneficiar da transição energética. Embora o Plano Nacional de Energia e Clima português e o Plano Nacional Integrado de Energia e Clima espanhol possam não atingir plenamente os seus objetivos, ambos definem um rumo claro para a eletrificação e para as energias renováveis. Para ambos os países, a transição representa uma oportunidade industrial, fomentada por tendências como o nearshoring e o greenshoring.
- Esta transformação ambiciosa do sistema energético também obriga a resolver os principais constrangimentos, sobretudo a capacidade da rede e a sua digitalização, a capacidade de armazenamento, os serviços auxiliares de sistema e a flexibilidade do lado da procura, bem como os licenciamentos, os incentivos, os sinais de preço e o apoio local.
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