BCE preve «inflação alta durante algum tempo»

Presidente do BCE, Christine Lagarde, alerta famílias

21 de julho, 2022
BCE preve «inflação alta durante algum tempo»
As famílias europeias vão ter de continuar a lidar com a escalada dos preços durante mais algum tempo, até que o aperto da política monetária, e outros fatores, aproximem a taxa de inflação do objetivo de 2%.
O alerta foi dado esta quinta-feira pela presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, que confessou, numa conferência de imprensa: “Esperamos que a inflação continue indesejavelmente elevada durante algum tempo, por causa da pressão dos preços da energia e dos alimentos.”

A declaração representa uma má notícia para os europeus, numa altura em que o índice de preços na Zona Euro atingiu 8,6% em junho na comparação homóloga. A confirmação deste indicador terá sido um dos fatores que levou o conselho de governadores do BCE a decidir subir os juros diretores em 50 pontos base esta quinta-feira. Uma subida igual ao dobro do que tinha sinalizado no mês passado, e que põe fim à era dos juros negativos na Zona Euro.

De acordo com Christine Lagarde, a inflação está a “alastrar-se a mais e mais setores”, principalmente em resultado da subida dos preços da energia. Disso é exemplo o facto de que os portugueses nunca pagaram tanto por gasolina e gasóleo como neste ano. A agravar esta dinâmica inflacionista está também a “depreciação da taxa de câmbio do euro”, que já chegou a transacionar abaixo do dólar nas últimas semanas, admitiu a presidente.

Ainda assim, a líder do BCE disse que as perspetivas do banco central até junho, aliadas às da Comissão Europeia divulgadas na semana passada, levam o conselho de governadores a crer que não deverá haver uma recessão na Zona Euro em 2022 nem em 2023. Todavia, Lagarde confessou: “Há nuvens no horizonte? Claro que há.”

Nesse contexto, a responsável explicou que existem alguns fatores que estão a amparar o impacto da inflação. É o caso das poupanças acumuladas pelas famílias durante os confinamentos provocados pela pandemia, mas não só: “A atividade económica continua a beneficiar da reabertura da economia, de um mercado laboral forte e das políticas de apoio orçamentais. Em particular, a reabertura da economia está a ajudar o consumo no setor dos serviços”, sublinhou.

Aqui há boas notícias para Portugal, que é particularmente exposto ao turismo: “À medida que as pessoas começam a viajar novamente, espera-se que o turismo ajude a economia no terceiro trimestre deste ano”, estimou Lagarde. De notar que a Comissão Europeia reviu em alta a perspetiva de crescimento da economia portuguesa este ano para 6,5% — a confirmar-se, será a economia europeia que mais crescerá em 2022, abrandando depois para 1,9% em 2023, calcula Bruxelas.

Ainda assim, apesar de toda a incerteza, a presidente do BCE mostrou-se esperançosa com a “estabilização” dos preços da energia e alívio nos estrangulamentos nas cadeias de abastecimento. Fatores que, aliados à “normalização da política monetária”, deverão levar a inflação para um território mais suportável.

Na quarta-feira, também o primeiro-ministro português, António Costa, alertou que a inflação vai perdurar por mais algum tempo. No debate do Estado da Nação, o chefe do Governo disse que o “efeito da inflação será mais duradouro” do que o previsto, estando o Executivo a desenhar um novo pacote de ajudas às famílias e empresas para setembro.

Fonte: eco.sapo.pt