«Lacuna de flexibilidade» pode descarrilar transição energética na Europa

A conclusão consta do Índice de Preparação para a Transição Energética de 2023

24 de novembro, 2023
«Lacuna de flexibilidade» pode descarrilar transição energética na Europa
As metas europeias de energia renovável podem estar comprometidas devido a um défice de flexibilidade existente, que pode criar obstáculos importantes para algumas das maiores economias da Europa.
Estes desafios só poderão ser ultrapassados se os governos avançarem com políticas que criem os mercados justos, transparentes e de fácil acesso, necessários para atrair investimentos privados ao nível da flexibilidade do lado da procura.

A conclusão é sublinhada no Índice de Preparação para a Transição Energética (ETRI) de 2023, elaborado pela Associação para as Energias Renováveis e Tecnologias Limpas (REA), pela Eaton, empresa que atua na gestão de energia, e pelo Foresight Group, o gestor de investimentos em infraestruturas e participações privadas orientadas para a sustentabilidade.

O estudo compara o grau de preparação de 14 mercados elétricos nacionais face à transição e abandono dos combustíveis fósseis, e explora ainda o défice de flexibilidade entre o objetivo de cada país para a produção variável de energia renovável até 2030 e a quantidade de flexibilidade associada de que o país necessitará até lá.

Segundo o relatório, a Alemanha e o Reino Unido enfrentam o maior défice de flexibilidade até 2030, seguidos pela Dinamarca, Grécia, Irlanda, Países Baixos e Espanha. Apenas a Noruega, a Finlândia e a Suécia parecem poder colmatar esse défice com facilidade - o seu défice é menor, em parte porque têm acesso a uma grande quantidade de energia hidroelétrica, mas também porque têm mercados de flexibilidade bem estabelecidos.

Segundo o relatório, à medida que a produção de carvão e de gás vai sendo gradualmente eliminada, as redes elétricas nacionais têm de equilibrar a intermitência da produção variável de energias renováveis, proveniente de ativos como os parques eólicos comerciais, com as necessidades de energia de cada país, minuto a minuto.

A flexibilidade é essencial para estabilizar uma rede com elevada utilização de energias renováveis e a única forma de os países conseguirem atingir níveis elevados de flexibilidade é incentivando o investimento nas capacidades de resposta do lado da procura, como o armazenamento de energia. A abertura dos mercados à flexibilidade é um requisito essencial para incentivar esse investimento.

França e Itália enfrentam um défice menor, comparativamente a alguns países vizinhos, mas ainda assim têm de fazer mais para atrair os investimentos em flexibilidade de que necessitarão até 2030. A Suíça enfrenta um défice relativamente pequeno graças aos elevados níveis de flexibilidade da energia hidroelétrica, mas a sua estrutura de governação regional implica uma coordenação deficiente das políticas para proporcionar toda a flexibilidade necessária. A Polónia está na fase inicial da transição energética, com grandes ambições, mas enfrenta desafios no financiamento dos investimentos necessários para melhorar o acesso à rede por parte dos fornecedores de flexibilidade.

Investimento em tecnologias facilitadoras aumentam flexibilidade

O índice inclui também subclassificações para os fatores socioeconómicos e tecnológicos que apoiam ou dificultam os investimentos na transição energética. Aumentar o nível de apoio às tecnologias facilitadoras, como as infraestruturas de carregamento de VE e a implementação de contadores inteligentes, é uma das formas de os países poderem aumentar a flexibilidade e, por conseguinte, ajudar a colmatar o défice de flexibilidade. Alguns países estão a aproveitar esta oportunidade da melhor forma.

Tanto a Alemanha como o Reino Unido lideram a «atratividade ao investimento» desde o início do inquérito anual em 2019, mostrando que, com os ambientes políticos adequados, ambos os países têm potencial para atrair investimento na transição energética, colmatar a lacuna de flexibilidade e fornecer redes altamente renováveis.

Cyrille Brisson, vice-presidente de vendas e marketing, EMEA, Eaton, disse: «o entusiasmo das empresas pela transição energética está a crescer, estimulado pelas preocupações com as emissões de carbono, a segurança energética e a volatilidade dos preços. Os governos devem responder a isto com políticas que proporcionem mercados justos, transparentes e de fácil acesso, necessários para atrair investimentos privados na flexibilidade do lado da procura e tornar a transição energética acessível e económica para todos. A estabilidade e a previsibilidade aumentarão a confiança dos investidores em projetos que, muitas vezes, podem ter períodos de retorno bastante longos».

Chris Tanner, sócio do Foresight Group e presidente do Fórum Financeiro da REA, afirmou: «é encorajador ver os progressos observados em vários países europeus, tanto na construção de energias renováveis como nos requisitos de flexibilidade associados. Estas melhorias sublinham que, com os ambientes políticos corretos, o Reino Unido, e a Europa no seu conjunto, têm potencial para atrair investimentos significativos na transição energética. Isto, por sua vez, coloca-os em posição de colmatar a lacuna de flexibilidade e de criar com êxito redes com elevado nível de energias renováveis até 2030, apresentando uma trajetória promissora para o futuro da energia sustentável».

Já Frank Gordon, diretor de política da REA (Associação para as Energias Renováveis e Tecnologias Limpas), considera que «é positivo ver que todos os países avaliados no ETRI 2023 têm objetivos ambiciosos de descarbonização. Precisamos agora de ver uma ação significativa para remover as barreiras que a nossa indústria enfrenta no Reino Unido e na Europa: um planeamento adequado a longo prazo; priorizar e acelerar as reformas do mercado; e abordar urgentemente as atuais barreiras ao investimento - tudo isso é desesperadamente necessário para nos ajudar a colocar no caminho certo».

O relatório ETRI 2023 da REA pode ser lido na íntegra aqui...